Se há coisa extremamente frustrante é o tempo. E não falo do tempo a passar , falo do efeito que o tempo tem sobre o passado.
Por defeito, falta de capacidade, ou mecanismo de defesa, o nosso córtex , ao longo do tempo tende a eliminar as coisas mas da vida e na memoria ficam apenas as boas. Excluindo, obviamente, os eventos traumáticos , o tempo é uma varinha magica que transforma tudo em cor-de-rosa.
E isto é muito chato. É chato porque sempre que perdemos algo na vida, indubitavelmente se desvanecem os defeitos e emergem as virtudes imensas. Este sentimento de “nostalgia” ou “memoria curta” é algo que nos faz recordar o bom do passado, transforma-lo em excelente, e ao mesmo tempo esquecer o mau. E isto pode constituir prejuízo, porque é óbvio que um passado glorioso pode ofuscar o presente. É óbvio que um passado idílico pode rebentar o agradável do momento e é óbvio que “tentativas de repetição” sairão sempre ao lado (ainda que se repitam mesmo).
E esta coisa é frustrante, porque pode transformar um passado que nem foi nada de especial em algo especial...e isso, cá para mim, é o pior – a dificuldade de discernir se aquilo que aconteceu la atrás em 1986 foi mesmo giro ou se é apenas este “tempo”.
Para os que acham que não é assim....não me lixem! Toda a gente tem recordações de infância, da escola, da tropa, de África, da faculdade, da catequese ou da ditadura e diz a miude , “ahh, aquilo é que foram tempos”.
Lendo, falando e vendo fotos, parece que toda a gente teve um passado ultra glorioso, quando na verdade até podem ter vivido a mais banal vida. Conta-se pelos dedos os vencidos da vida e até esses que se entregam ao fado, tendem em engrandecer a desgraça.
(bem e agora vou ali comprar uma baguette e ouvir “recordar é viver” do Sr. Vítor Espadinha)
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