domingo, 23 de novembro de 2014

Nisto da vida


Nisto da vida, muitas vezes mais importante que o ter ou ser, é a expectativa de se ter, de se ser, de se sentir. Por outras palavras, melhor que a sobremesa que se come no final, só mesmo toda a refeição que a antecedeu…Por mais que o cheescake seja gourmet e envolvido em espuma de framboesas, nunca será uma refeição completa e dificilmente substituirá “cassoulet”. Tudo isto significa que tudo precisa do seu tempo no seu tempo.

Se há uns anos o exercício de viver cada coisa a seu tempo era manifestamente mais fácil (por manifesta falta de outra opção), hoje em dia, existe um forte ímpeto para o fast forward, uma tendência para a aceleração, para o querer viver tudo e depressa, para o bypass, para o atalho - para o facilíssimo. O advento da modernidade e a frescura tecnológica retirou o espaço da calma, da resiliência, do saber estar e esperar, do processo de semear para, havendo sorte, colher. 

Isto nota-se em variados vectores da sociedade,mas é paradigmático, por exemplo,  nos relacionamentos. Hoje em dia, mais do que nunca, há um gozo da frugalidade e rapidez na maneira como as pessoas se envolvem e relacionam. Uma clara sobre-valorização da consumação sexual em desprimor de todo um delicioso processo imaginativo de conhecimento e de sedução. Sem querer transformar este texto em “maiores de 18” (embora só maiores de 18 tenham conseguido chegar a este ponto da leitura), melhor que fazer o amor, só mesmo todo o processo que nos leva a esse toque de carne. Se começarmos pela sobremesa, dificilmente vamos conseguir sentir o paladar salgado de toda uma refeição.


(e penso que foi a primeira vez que começo um texto e acabo com referência as comida, juro que não estou com fome).