quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Engenharia por vocação

A lista de colocados no ensino superior é reveladora – Muitos dos cursos de engenharia civil não tiveram um único colocado, a maioria não teve mais de meia-dúzia e não houve uma única instituição a encher as vagas todas (nem os “creme de la creme” IST e FEUP).

Os motivos parecem-me óbvios, num pais em crise e com desinvestimento, o sector da construção é dos mais penalizados, contudo isso não justifica tudo, até porque há cursos cujas saídas profissionais são igualmente redutoras (ou piores) – por exemplo arquitectura ou enfermagem (mas não só), e tiveram ocupação praticamente total e com médias dignas de respeito.

Se por uma lado podemos discutir o excesso de oferta no ensino “engenhararia” – Um barracão e uns enjeitados facilmente obtêm uma licença de ensino, há outras conclusões a retirar:

O que me parece clarividente e conclusivo é que muitas pessoas continuam e continuarão a escolher cursos que independentemente de terem “saídas”, correspondem de alguma forma aquilo que acreditam ser a sua vocação e por outro lado a engenharia nunca foi uma escolha “por vocação”, mas sim pela vida sumptuosa e regada de luxos e bom gosto que caracteriza os engenheiros. Ninguém escolhe engenharia porque “gosta muito e deseja ser gestor de cenas para sempre” ou porque “tenho vocação para ajudar pobres” ou porque “sou criativo” ou “gosto de fazer desenhos”. Engenharia é profissão filha da mãe e as pessoas escolhem isso pelo retorno que isso possa representar (ponto).

(e quem diz engenharia, diz gestão, economia e outros quejandos mais dados aos resultados que aos sentimentos do praticante – ninguém me convence que alguém escolhe contabilidade ou finanças porque adora passar os dias a fazer balancetes e encontros de contas).

No meio disto tudo, só fico sem perceber o que leva centenas de milhar de pessoas a escolher direito (embora criativa, não é profissão dada a grandes aforismos sentimentais), penso que só pode ser pelas séries americanas cheias de advogadas (os) giras (os) e cheios de estilo e que resolvem problemas com mais pinta e glamour com que o seios (Pamela) resgatavam incautos do mar californiano.

Quanto a rede de politécnicos que brotou, no Portugal burguês dos anos 90, como cogumelos...é para fechar mesmo quando?

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