quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Daquilo dos Miros

Eu, que me considero minimamente sensivel do ponto de vista artistico, confesso-me confuso ou então  desconhecedor de algo. Se por um lado me parece evidente que houve um processo mal gerido e com alguns atropelos aquilo que é a lei (o que promove naturalmente a duvida) por outro quer-me parecer um pouco autista a reacção e o tipo de reacção de ilustres intlectuais e de representantes da “esquerda defensora dos pobres”.
 
 
A colecção dos Miros (que pode valer 40 milhões €), resulta de um processo que, de um ponto de vista mais geral, representa muito milhões de danos para todos os contribuintes. A venda da colecção, não cobrindo de todo o que se perdeu,  é, pelo menos simbolicamente, consistente com a politica de privatizações, vendas e alienações como parte das medidas de recuperação economica e sobretudo financeira. Ja para não falar de todos os cortes em salarios, reformas, beneficios e outros quejandos.
Assim, quando vejo um tão grande numero de pensantes taxativamente contra a venda da colecção e, mais, afirmando que tal representa um grande embaraço e vergonha para Portugal (porque apenas um pais ou pessoa muito desesperada, venderia assim uma colecção daquelas),  pergunto-me a mim mesmo se estamos de facto no mesmo pais onde ja se ultrapassou todo e qualquer limite da vergonha e daquilo que se concebe como minimo e sustentavel para que as pessoas vivam de forma condigna. Se estamos de facto no mesmo pais, onde se vendem a interesses estrangeiros as estrategias nacionais.
Não é que eu tenha pessoalmente gosto na venda da colecção, mas temos que ver as coisas num quadro geral. Em “barriga que não come”, sera que ha olhos para verem arte? Num pais de muito baixo nivel intlectual, importara assim a tantos que existam mais ou menos Miros? A quantos no, fundo, poderia interessar assim tanto esta colecção? Não havera outras maneiras de catalisar a cultura e o interesse das pessoas?
Estamos mesmo a falar do mesmo pais em que um doente de Chaves teve que fazer 400 km de ambulancia e vir morrer a Lisboa?
Depois ainda ha ainda os que advogam que mesmo do ponto de vista estritamente financeiro, a operação não é boa, porque alegadamente seria mais interessante criar um museu de arte moderna para expor a colecção em Portugal e assim atrair apreciadores do mundo todo, que pagariam um justo preço para ver os distintos quadros. Isto é mesmo a sério? Quem conheça minimamente os grandes museus da europa e américa (e for sério), dificilmente podera acreditar que algum dia teriamos condições para competir nesse campo (dificilmente vamos atrair visitas especificamente motivadas pela nossa museulogia).
Sumarizando, parece-me grande o nivel de insensibilidade e de falta de coesão. Quais são afinal as nossas prioridades?
(O que teria sido interessante, teria sido criar uma exposição temporaria que permitisse a todos ir ver os quadros antes de se equacionar a venda).

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