Eu, que me considero minimamente sensivel do
ponto de vista artistico, confesso-me confuso ou então desconhecedor de algo. Se por um lado me
parece evidente que houve um processo mal gerido e com alguns atropelos aquilo
que é a lei (o que promove naturalmente a duvida) por outro quer-me parecer um
pouco autista a reacção e o tipo de reacção de ilustres intlectuais e de
representantes da “esquerda defensora dos pobres”.
A colecção dos Miros (que pode valer 40 milhões
€), resulta de um processo que, de um ponto de vista mais geral, representa
muito milhões de danos para todos os contribuintes. A venda da colecção, não
cobrindo de todo o que se perdeu, é,
pelo menos simbolicamente, consistente com a politica de privatizações, vendas
e alienações como parte das medidas de recuperação economica e sobretudo
financeira. Ja para não falar de todos os cortes em salarios, reformas, beneficios
e outros quejandos.
Assim, quando vejo um tão grande numero de pensantes
taxativamente contra a venda da colecção e, mais, afirmando que tal representa
um grande embaraço e vergonha para Portugal (porque apenas um pais ou pessoa
muito desesperada, venderia assim uma colecção daquelas), pergunto-me a mim mesmo se estamos de facto no
mesmo pais onde ja se ultrapassou todo e qualquer limite da vergonha e daquilo
que se concebe como minimo e sustentavel para que as pessoas vivam de forma
condigna. Se estamos de facto no mesmo pais, onde se vendem a interesses
estrangeiros as estrategias nacionais.
Não é que eu tenha pessoalmente gosto na venda
da colecção, mas temos que ver as coisas num quadro geral. Em “barriga que não
come”, sera que ha olhos para verem arte? Num pais de muito baixo nivel intlectual,
importara assim a tantos que existam mais ou menos Miros? A quantos no, fundo,
poderia interessar assim tanto esta colecção? Não havera outras maneiras de
catalisar a cultura e o interesse das pessoas?
Estamos mesmo a falar do mesmo pais em que um
doente de Chaves teve que fazer 400 km de ambulancia e vir morrer a Lisboa?
Depois ainda ha ainda os que advogam que mesmo
do ponto de vista estritamente financeiro, a operação não é boa, porque
alegadamente seria mais interessante criar um museu de arte moderna para expor
a colecção em Portugal e assim atrair apreciadores do mundo todo, que pagariam
um justo preço para ver os distintos quadros. Isto é mesmo a sério? Quem
conheça minimamente os grandes museus da europa e américa (e for sério), dificilmente
podera acreditar que algum dia teriamos condições para competir nesse campo (dificilmente
vamos atrair visitas especificamente motivadas pela nossa museulogia).
Sumarizando, parece-me grande o nivel de insensibilidade
e de falta de coesão. Quais são afinal as nossas prioridades?
(O que teria sido interessante, teria sido
criar uma exposição temporaria que permitisse a todos ir ver os quadros antes
de se equacionar a venda).
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