terça-feira, 3 de junho de 2014

Rescaldo Europeu

No rescaldo das eleições vencidas com maioria absoluta pela abstenção, entendidos e interessados têm-se digladiado entre justificações e responsabilizações. Do lado dos votantes, enorme culpabilização aos abstencionistas, por alegadamente estes serem irresponsáveis que não respeitam a democracia nem revelam interesse no processo eleitoral. Do lado dos abstencionistas interessados, uma geral recusa da culpa, quer por considerarem muitos dos votantes como pertencentes ao sistema partidário, quer por assumirem que o seu não voto é tão legitimo e válido com um voto (como representação de protesto).
 
Excluindo a estupidez dos extremos, ambos têm argumentos válidos e compreensíveis - Para se votar, não tem que se ter uma concordância com qualquer dos candidatos, contudo a abstenção tal como se apresentou representa muito mais do que desleixo e irresponsabilidade (eventual) e recusar isto é meter tudo no mesmo saco e insistir no erro (do sistema partidário) e como tal, esta negação de uma evidência, não deixa também de ser um forte desrespeito democrático e clara evidência de desleixo pelos ideais democráticos.

Prova disto, é que muitos dos que abstiveram, não se escusaram de explicar porquê, de argumentarem o seu não voto, de insistir na sua preferência anti-sistema. Apesar de votar ser um dever cívico, não se pode, em democracia, “forçar” o voto aqueles que deixaram de acreditar no poder do voto ou no sistema que lhe assiste. A participação dos eleitores é fundamental para o processo democrático, mas também o é que que os principais actores agradem ao publico

Assim, o maior mal não é as pessoas não votarem, mas sim o que as leva a não votarem - ou seja, uma profunda descrença na utilidade da eleição política. Um sistema só é um bom sistema se servir a maioria e se esta o reconhecer como bom. Não basta dizer que o sistema é bom e responsabilizar quem nele não participa. Cabe aos decisores políticos, também, perceber que a necessidade mudança ou adaptação, é a única leitura que se pode retirar destes resultados a nível europeu. Tal como noutras relações, não basta sermos o “special one” hoje, é preciso a dedicação de sermos o “special one” sempre e mesmo assim isso não é garante que o que hoje é especial amanhã não o seja.
 

 



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