domingo, 12 de outubro de 2014

O essencia da vida

Com o surto de Ébola, que dura desde Dezembro mas agora que ganhou estatuto intercontinental se tornou preocupante, tenho lido “por aí” indignações e coisas,  porque há quem não compreenda como e porque é que aquela coisa saiu de África, que houve irresponsabilidade das pessoas que teimam em viajar para países desses e que, acima de tudo, deviam ser definitivamente proibidas (ou muito restringidas) as viagens para esses países, que não se compreende, etc…

Não tenho nada de contra de “para grandes males, grandes remédios” e concordo que é boa altura para a humanidade se focar no essencial e deixar para trás as coisas que só nos fazem mal (mais ou menos o mesmo que dizer a um alcoólico para parar de beber álcool), duvido do nível de consciencialização que afinal a sociedade ocidental tem do preço do seu estilo de vida. 

Não acredito que haja muita gente a viajar para as “nigérias” deste mundo, a não ser porque tem que ser e o tem que ser tem (quase sempre) a ver com negócios e trabalho. Pode parecer fútil, mas o facto é que a grande maioria dos recursos do mundo são consumidos por uma pequena minoria (que por acaso é o caso da maioria que vai ler isto), assim, a pergunta que faço é: Será que temos consciência do preço do estilo de vida ocidental? É preciso que se perceba que o estilo de vida ocidental não é sustentável face aos recursos finitos do mundo e que desse modo se torna “essencial” continuar a viajar (mais e em força) para todos países onde haja os recursos necessários à perpetuação de um certo conforto que muitos se habituaram a ter e que tomaram como adquiridos, portanto, até que ponto estamos dispostos a prescindir dessas coisas “adquiridas” para nos focarmos no “fundamental”? Não digo que se deva continuar numa trajectória com provas dadas de insucesso, mas importa que se vejam os problemas na raiz dos mesmos, sendo inútil aparar só as pontas.


As pessoas já se habituaram a ver notícias de massacres enquanto jantam, pelo que não é de surpreender que apesar deste vírus já ter ceifado a vida a mais de 4000 pessoas, a coisa só se torne mesmo preocupante quando passa as fronteiras do ocidente e nos bate à porta, mas ainda assim não deixa de surpreender (e a humanidade supera-se sempre) que apesar da aparente apatia para com os milhares que padecem, haja afinal uma revolta para com o abate de um cão também ele padecente. É por estas (e outras) acho que há mesmo muita gente (demasiada) que não tem mesmo noção do mundo que as rodeia, mas talvez a vida tenha mesmo que ser assim, uma vez que justa só o é nas fábulas de La Fontaine (nada contra os direitos do animais, mas perceba-se que a na vida por vezes é preciso dar um passo atrás para continuar a seguir em frente).

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