domingo, 19 de outubro de 2014

equilíbrio insustentável


Se tivesse que definir a vida numa premissa fundamental, definira como um equilíbrio insustentável ou um desequilíbrio estável.

Na vida a única coisa que é garantida (para além da morte e impostos) é a constante mudança das pessoas pelo tempo e no tempo. Ou seja, a parte boa de algo mau, é que nada é mau para sempre da mesma maneira que nada pode ser bom para sempre (o que é mau).

Assim, não estou tão certo que a realidade à nossa volta mude, acreditando mais que o que muda somos nós ou pelos menos a percepção como vemos o cenário do filme da nossa vida. Característica da humanidade é a enorme capacidade de adaptação e tal como no amor (em que quem feio ama bonito lhe parece), temos uma condição incrível para nos moldarmos à realidade (nova ou desconfortável) em que nos encontramos até que a mesma se torne cómoda e confortável e depois passe a ser monótona e pouco desafiante e por fim procuramos (dependentemente de indivíduo para indivíduo) uma outra vez uma mudança na realidade e um novo ciclo começa, eventualmente. O segredo da estabilidade será portanto conseguir que a mesma seja desafiante o suficiente ou em conseguir viver sustentávelmente na corda bamba da vida.

No fundo, a vida não é tão diferente assim de uma grande maratona de fundo. No início o esforço e a taquicárdia parecem insuperáveis, mas depois de aquecermos, de atingirmos um novo ritmo cardíaco constante e uma nova tensão arterial, o nosso corpo adapta-se a isso como a abelha ao mel e a partir daí estamos sempre em melhoria contínua até cortarmos a meta a que nos tenhamos disposto. Ou seja, se ultrapassado o esforço inicial, vamos bater recordes, desde que, claro, estejamos numa condição saudável.



Quero com isto dizer que, por mais difícil que o desafio pareça, por maiores dificuldades que surjam, por pior que sejam os problemas, tudo se resolve e no fim acaba sempre bem e se não estiver bem é porque não acabou (ainda). O mais importante é mantermos (sem parecer um cliché) uma condição e portento físico saudáveis e com a dose certa de resiliência e esforço e (e alguma criatividade, vá), até a Odisseia de Ulisses se parece ao desafio de cortar manteiga com uma faca. Por outras palavras, na dificuldade sigam em frente, ainda que seguir em frente possa ser virar à direita ou à esquerda porque a vida mais importante que o destino é o caminho e importa acima de tudo acreditar que o caminho que seguimos é o certo (se o é ou não não interessa a ninguém). 



domingo, 12 de outubro de 2014

O essencia da vida

Com o surto de Ébola, que dura desde Dezembro mas agora que ganhou estatuto intercontinental se tornou preocupante, tenho lido “por aí” indignações e coisas,  porque há quem não compreenda como e porque é que aquela coisa saiu de África, que houve irresponsabilidade das pessoas que teimam em viajar para países desses e que, acima de tudo, deviam ser definitivamente proibidas (ou muito restringidas) as viagens para esses países, que não se compreende, etc…

Não tenho nada de contra de “para grandes males, grandes remédios” e concordo que é boa altura para a humanidade se focar no essencial e deixar para trás as coisas que só nos fazem mal (mais ou menos o mesmo que dizer a um alcoólico para parar de beber álcool), duvido do nível de consciencialização que afinal a sociedade ocidental tem do preço do seu estilo de vida. 

Não acredito que haja muita gente a viajar para as “nigérias” deste mundo, a não ser porque tem que ser e o tem que ser tem (quase sempre) a ver com negócios e trabalho. Pode parecer fútil, mas o facto é que a grande maioria dos recursos do mundo são consumidos por uma pequena minoria (que por acaso é o caso da maioria que vai ler isto), assim, a pergunta que faço é: Será que temos consciência do preço do estilo de vida ocidental? É preciso que se perceba que o estilo de vida ocidental não é sustentável face aos recursos finitos do mundo e que desse modo se torna “essencial” continuar a viajar (mais e em força) para todos países onde haja os recursos necessários à perpetuação de um certo conforto que muitos se habituaram a ter e que tomaram como adquiridos, portanto, até que ponto estamos dispostos a prescindir dessas coisas “adquiridas” para nos focarmos no “fundamental”? Não digo que se deva continuar numa trajectória com provas dadas de insucesso, mas importa que se vejam os problemas na raiz dos mesmos, sendo inútil aparar só as pontas.


As pessoas já se habituaram a ver notícias de massacres enquanto jantam, pelo que não é de surpreender que apesar deste vírus já ter ceifado a vida a mais de 4000 pessoas, a coisa só se torne mesmo preocupante quando passa as fronteiras do ocidente e nos bate à porta, mas ainda assim não deixa de surpreender (e a humanidade supera-se sempre) que apesar da aparente apatia para com os milhares que padecem, haja afinal uma revolta para com o abate de um cão também ele padecente. É por estas (e outras) acho que há mesmo muita gente (demasiada) que não tem mesmo noção do mundo que as rodeia, mas talvez a vida tenha mesmo que ser assim, uma vez que justa só o é nas fábulas de La Fontaine (nada contra os direitos do animais, mas perceba-se que a na vida por vezes é preciso dar um passo atrás para continuar a seguir em frente).