Se tivesse que definir a vida numa premissa fundamental, definira como um equilíbrio insustentável ou um desequilíbrio estável.
Na vida a única coisa que é garantida (para além da morte e impostos) é a constante mudança das pessoas pelo tempo e no tempo. Ou seja, a parte boa de algo mau, é que nada é mau para sempre da mesma maneira que nada pode ser bom para sempre (o que é mau).
Assim, não estou tão certo que a realidade à nossa volta mude, acreditando mais que o que muda somos nós ou pelos menos a percepção como vemos o cenário do filme da nossa vida. Característica da humanidade é a enorme capacidade de adaptação e tal como no amor (em que quem feio ama bonito lhe parece), temos uma condição incrível para nos moldarmos à realidade (nova ou desconfortável) em que nos encontramos até que a mesma se torne cómoda e confortável e depois passe a ser monótona e pouco desafiante e por fim procuramos (dependentemente de indivíduo para indivíduo) uma outra vez uma mudança na realidade e um novo ciclo começa, eventualmente. O segredo da estabilidade será portanto conseguir que a mesma seja desafiante o suficiente ou em conseguir viver sustentávelmente na corda bamba da vida.
No fundo, a vida não é tão diferente assim de uma grande maratona de fundo. No início o esforço e a taquicárdia parecem insuperáveis, mas depois de aquecermos, de atingirmos um novo ritmo cardíaco constante e uma nova tensão arterial, o nosso corpo adapta-se a isso como a abelha ao mel e a partir daí estamos sempre em melhoria contínua até cortarmos a meta a que nos tenhamos disposto. Ou seja, se ultrapassado o esforço inicial, vamos bater recordes, desde que, claro, estejamos numa condição saudável.
Quero com isto dizer que, por mais difícil que o desafio pareça, por maiores dificuldades que surjam, por pior que sejam os problemas, tudo se resolve e no fim acaba sempre bem e se não estiver bem é porque não acabou (ainda). O mais importante é mantermos (sem parecer um cliché) uma condição e portento físico saudáveis e com a dose certa de resiliência e esforço e (e alguma criatividade, vá), até a Odisseia de Ulisses se parece ao desafio de cortar manteiga com uma faca. Por outras palavras, na dificuldade sigam em frente, ainda que seguir em frente possa ser virar à direita ou à esquerda porque a vida mais importante que o destino é o caminho e importa acima de tudo acreditar que o caminho que seguimos é o certo (se o é ou não não interessa a ninguém).