O lavagante, como estratégia de alimento, alimenta algumas das suas presas. As presas, comodamente, aceitam esse alimento e deixam de, elas próprias, o procurar. Um dia, quando as presas ja estiverem o suficientemente gordas para não se conseguirem mexer, o lavagante vai ao seu esconderijo e come-as.
Numa época de profundo autismo social e político, eis que a Ministra das Finanças se reuniu com banqueiros, em dezembro passado, com intuito de “forçar” mais um financiamento da banca (privada) ao sector empresarial do estado.
Falamos de cerca 2,7 mil milhões, mariotariamente para financiar empresas publicas do sector dos transportes. O motivo é simples: Permitir continuar a manter estas empresas fora do perímetro de consolidação orçamental, evitar que a dividas destas sejam consideradas como divida publica e assim contribuir para o regime de brilharete que pretende transformar medidas vulgares de mascarar divida em actos de consolidação e reforma estrutural – não é que o elefante não esteja no meio da sala, o que acontece é que ninguém o quer ver.
Mais grave que estas medidas procastinadoras da resolução (imprescindivel no futuro que deveria ser suscentavel), é a promiscuidade que se gera entre a banca privada e sector estado...Quando o próprio estado cataliza um investimento que não tem cabimento “per si”, não pode ser de esperar outra coisa que não a da banca vir um dia cobrar o favor.
Paralelamente, existe em curso um plano de privatizações do sector empresarial do estado. Aparentemente só das empresas interessantes e estratégicas, as poucos interessantes ficam, naturalmente, de fora do interesse de privados e continuarão a acumular, na sua maioria, prejuízos.
O grande mobil das privatizações tem sido o encaixe financeiro imediato que as mesmas permitem. Claro que este governo é refém de um memorando, de um troika, de anos e anos e vários governos de ma gestão. Claro que a criatividade orçamental é hoje em dia muito reduzida, contudo a aleanação de interesses estratégicos nacionais é algo que, para além de só adiar um problema, nos vai caducar enquanto soberanos num futuro.
Pode-se falar em manter o interesse nacional atraves de instrumentos de regulamentação, mas isso não é a mesma coisa que fazer. Uma coisa é regular, outra coisa é fazer...o que isto representa é uma delapidação da capacidade nacional de o fazer. Num pais pequeno e de pouca população, permitir que interesses estrategicos sejam diluidos em grandes interesses internacionais, é uma condenação à dependência.
É um permitir deixar de aprender, é o processo inverso dos paises em desenvolvimento. É a oportunidade unica de desenvolver quadros que se perde para sempre. Não está em causa a competência dos privados na gestão dos bens públicos, o que esta em causa é a incapacidade de gerar valor e de nos permitir continuar a afirmar na gestão de topo, ja para não falar na oportunidade perdida que nos permitiria desenvolver estas empresas internacionalmente e salvaguardar interesses nacionais.
Anda aí um lavagante e anda aí alguém a ser alimentado.