segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Jeremias - Um preludio

Corria um qualquer ano, a seguir a um outro qualquer ano que antes tinha passado e antes do outro ano que estava para vir. Estavam despidas as árvores, de folhas, de ideais, as pessoas, talvez. Do inverno que ainda não estava, só havia o outono que já  brotava frieza. A aspereza do clima contrastava com a temperatura das ideias daquele tempo, tão quentes e nítidas para uns, tão frias e desbotadas para outros. Confusas, consequentemente, em actos por todos e traduzidas na linguagem do comportamentos nos dias que se seguem aos dias, puxados pela corrente da alvorada dos sóis que nascem e pelas luas que os precedem. Eram assim aqueles tempos, tão cheios de tanta coisa, tão vazios de tudo. 


A indiferença para com o tempo espalhou-se como se espalha o sangue pelas veias, não foi contudo sempre assim. Serviam-lhe em si ainda todos os sonhos do mundo, já não porém o casaco que os veste.  Com a constatação de tal, Jeremias vivia a frugal existência dos que tudo têm e nada precisam. Noutro tempo, talvez tivesse sido diferente. Noutro tempo foi diferente. Jeremias mete-se então ao caminho e segue em frente sem a hesitação dos que sabem o caminho. 

sábado, 6 de junho de 2015

Tão depressa aqui, hoje

Ainda ontem, o teu rosto, sorriso, o meu, o nosso, nós todos, antes. Sem pregas nem ornatos ainda, mas cheio dos sonhos e da vida dos de poucos anos de quem nada sabe do que não sabe e tem tudo para viver. O nosso rosto, lavado ainda com a ingenuidade de quem ainda não sabe, mas acredita. Expurgado de asperezas mas cheio de pressas, ainda com tão pouco tempo mas já sem tempo. 

Hoje, o nosso rosto, mais oxidado, com consumo do tempo já, mas ainda cheio. Mais cheio o sorriso. Não de pressa, mas de brilho. De quem não sabendo, não precisa de saber. De quem ja vivendo, não tem a mesma pressa do amanhã. A calma que permite a plenitude, a vida que começa agora a doer. A dor que arrepia o palato e permite o sabor. O tempo, cavalo, que não passa sem nos lavrar.  Mas ao mesmo tempo, ainda os sonhos e a ingenuidade. As mesmas crianças e vontades, por vezes só aprisionadas no costume do hábito. 


A vida são as escolhas que fazemos, as oportunidades que perdemos, o que não fizemos, o que nos tornamos, mas acima de tudo como vivemos tudo isso e como gerimos o que preferiríamos não gerir.  As coisas são como são, importa que se compreenda isso para que não se penalize demasiadamente a vida por não serem as coisas de outra maneira. 

sábado, 2 de maio de 2015

Jeremias, a quem vale a pena




Jeremias acorda e vê-se ao espelho. Os olhos encovados, as pálpebras cansadas e a pele que começa  a querer perder aquela firmeza inquebrável da juventude. Os olhos, à volta roxos, o pescoço mais mole, o cabelo menos ágil. Ainda, brilham os olhos, porém. Jeremias vê-se ao espelho e pergunta-se se vale a pena, se tem valido a pena, se valerá a pena. 

Jeremias quer acreditar que sim, Jeremias gosta de acreditar que sim, Jeremias precisa de acreditar que sim. Jeremias sabe muitíssimo bem que sim. No fundo, acha-se sempre que vale a pena, no fundo encontramos sempre a justificação que justifica tudo, a razão na falta de explicação. Precisa-se desse Sim, porque Sim.  As nossas rugas haveriam sempre de dar um grande filme. O lavradio da alma haveria sempre de dar lugar a um grande filmezão. 

(Mais lá no fundo não sabemos, no nossos confins não sabemos nada, nunca soubemos. Jeremias não sabe, mas segue em frente, nem sabe andar para trás). 

Jeremias disfarça a erosão com água fria e creme gordo, veste-se bem e afasta a força do pensamento com a mesma proporção de rotina. Na rua o seu olhar encontra-se com o de uma criança que corre. Entre os dois, brilhos iguais, tudo igual, apenas 30 anos de diferença. Nos primeiros, o sonho do que ainda não se é, nos segundos a certeza de que não se é. A derrota da vida em 30 anos, fosse Jeremias um actor secundário. Não fosse Jeremias confiante da estrela que ele é, e até talvez não lhe valesse a pena. Não fossem as certezas de Jeremias e talvez Jeremias não estivesse a envelhecer tão bem. Ele, que é uma estrela de cinema, a capa de uma revista. Haveriam de ver, o Jeremias lá da escola, quem diria. 


Debaixo do braço, Jeremias enrola o jornal das noticias de ontem na esperança que sejam as de amanhã e pensa no bom que é que tudo lhe valha a pena. Que infortúnio seria se não lhe valesse a pena. Sorriso gáudio o do doce da vida de Jeremias. 

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Como as coisas são




Estão lá todos os dias. Todos os dias, 20 h e 0ºC, entre gente de passo alheado, apressado e com capuz invernal enfiado, estão lá todos os dias. No mesmo sítio, já não estendem o braço, mas o olhar derrotado está lá. Derrotado ou penitente, talvez de suplica. Nem sei, só sei que para além do olhar brilhante e penetrante, têm tudo o que têm no saco que os aconchega do gelo. 

Ninguém lhes liga, a vida não permite e há sempre algo e alguém que nos espera, nunca é por mal, “Se não estivesse tão atrasado até era pessoa para ajudar”, pensam e passam os poucos que olham.  Eles já não esperam nada, esperam talvez apenas que o tempo passe e a morte os leve. Talvez não, gosto de imaginar que secretamente se riem de nós e do quão ridículos somos sempre “nem aqui nem ali” e a tentar tirar mais um coelho da cartola para que nos mantenhamos incluídos. Ninguém lhes liga porque eles não existem. São fantasmas da sociedade moderna, o mal necessário da evolução, o talo da cove que não se come. Vítimas ou culpados, eles representam o que ninguém quer ver, o que não é suposto existir, a desconstrução do motivo. Ninguém lhes liga porque não vale a pena, porque não há resposta, porque os anéis se perderam e os dedos nunca existiram. Fazer o quê, se tenho o jantar o lume e o chefe é chato?

Incomoda-me o frio, a eles ainda mais de certeza, mas eu queixo-me mais, logo, pela teoria, sofro mais. Já aquecido em casa, ouço um canal de TV americano que fala vagamente da Grécia e muito concretamente de um ministro “com forte sentido de moda e com o carisma e beleza clássica da antiguidade” mas com um nome demasiado incomum para o meu palato linguístico. Olho para o tal ministro de ar rústico e para o ar sofisticado da repórter e constato que ele afinal é que é sofisticado e ela rústica, embora tenha duvidas quanto ao carisma. 

As coisas são como são, e porque haveriam de ser diferentes? Acabo a escrever este texto e a pensar para mim que na vida a importância do que somos e temos só vale para o fundamental da sociedade - a inclusão.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Sade

Numa exposição evocativa de Marquês de Sade, que forçosamente é irreverente, provocadora e naturalmente chocante, não sei o que será mais interessante. Se a a exposição em si ou se as pessoas que a ela assistem. Uma exposição, mais do que especialistas na matéria, tem sempre uma boa dose de curiosos (naturalmente a maioria) e depois uma dose dos que estão lá, mas não sabem ao que vão. Normalmente estes últimos dividem-se entre o ar apressado ente o ar aborrecido. Neste caso em particular, era mais o ar de espanto. 


O que é interessante, é que pelo modo como as pessoas olhavam e/ou pelo ar repulsivo (ou não) que faziam às obras mais chocantes, é tão perceptível perceber o que lhes vai nas almas e saber de onde são, o que são e para onde vão.



segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

do Charlie e dos outros

E agora que já fomos todos Charlie e que outros deixaram de ser Charlie para ser outra coisa e depois de afinal percebermos que não somos tão Charlie assim (que isto de andar “à chuva” é duro e pode fazer comichão)  podemos então voltar às nossas vidas com a graça de nosso senhor, que isto dos problemas do mundo é muito bonito, mas é muito melhor se vivermos aqui no nosso cantinho e deixemo-nos cá de preocupações e coisas dessas com o resto e com as cenas dos povos e dos que se dizem vítimas, que isto da vida são dois dias e três dura o SBSR (e vamos ver se há bilhetes, que isso de crises é só lá longe onde pessoas matam outras, que brutos).

domingo, 23 de novembro de 2014

Nisto da vida


Nisto da vida, muitas vezes mais importante que o ter ou ser, é a expectativa de se ter, de se ser, de se sentir. Por outras palavras, melhor que a sobremesa que se come no final, só mesmo toda a refeição que a antecedeu…Por mais que o cheescake seja gourmet e envolvido em espuma de framboesas, nunca será uma refeição completa e dificilmente substituirá “cassoulet”. Tudo isto significa que tudo precisa do seu tempo no seu tempo.

Se há uns anos o exercício de viver cada coisa a seu tempo era manifestamente mais fácil (por manifesta falta de outra opção), hoje em dia, existe um forte ímpeto para o fast forward, uma tendência para a aceleração, para o querer viver tudo e depressa, para o bypass, para o atalho - para o facilíssimo. O advento da modernidade e a frescura tecnológica retirou o espaço da calma, da resiliência, do saber estar e esperar, do processo de semear para, havendo sorte, colher. 

Isto nota-se em variados vectores da sociedade,mas é paradigmático, por exemplo,  nos relacionamentos. Hoje em dia, mais do que nunca, há um gozo da frugalidade e rapidez na maneira como as pessoas se envolvem e relacionam. Uma clara sobre-valorização da consumação sexual em desprimor de todo um delicioso processo imaginativo de conhecimento e de sedução. Sem querer transformar este texto em “maiores de 18” (embora só maiores de 18 tenham conseguido chegar a este ponto da leitura), melhor que fazer o amor, só mesmo todo o processo que nos leva a esse toque de carne. Se começarmos pela sobremesa, dificilmente vamos conseguir sentir o paladar salgado de toda uma refeição.


(e penso que foi a primeira vez que começo um texto e acabo com referência as comida, juro que não estou com fome).



domingo, 19 de outubro de 2014

equilíbrio insustentável


Se tivesse que definir a vida numa premissa fundamental, definira como um equilíbrio insustentável ou um desequilíbrio estável.

Na vida a única coisa que é garantida (para além da morte e impostos) é a constante mudança das pessoas pelo tempo e no tempo. Ou seja, a parte boa de algo mau, é que nada é mau para sempre da mesma maneira que nada pode ser bom para sempre (o que é mau).

Assim, não estou tão certo que a realidade à nossa volta mude, acreditando mais que o que muda somos nós ou pelos menos a percepção como vemos o cenário do filme da nossa vida. Característica da humanidade é a enorme capacidade de adaptação e tal como no amor (em que quem feio ama bonito lhe parece), temos uma condição incrível para nos moldarmos à realidade (nova ou desconfortável) em que nos encontramos até que a mesma se torne cómoda e confortável e depois passe a ser monótona e pouco desafiante e por fim procuramos (dependentemente de indivíduo para indivíduo) uma outra vez uma mudança na realidade e um novo ciclo começa, eventualmente. O segredo da estabilidade será portanto conseguir que a mesma seja desafiante o suficiente ou em conseguir viver sustentávelmente na corda bamba da vida.

No fundo, a vida não é tão diferente assim de uma grande maratona de fundo. No início o esforço e a taquicárdia parecem insuperáveis, mas depois de aquecermos, de atingirmos um novo ritmo cardíaco constante e uma nova tensão arterial, o nosso corpo adapta-se a isso como a abelha ao mel e a partir daí estamos sempre em melhoria contínua até cortarmos a meta a que nos tenhamos disposto. Ou seja, se ultrapassado o esforço inicial, vamos bater recordes, desde que, claro, estejamos numa condição saudável.



Quero com isto dizer que, por mais difícil que o desafio pareça, por maiores dificuldades que surjam, por pior que sejam os problemas, tudo se resolve e no fim acaba sempre bem e se não estiver bem é porque não acabou (ainda). O mais importante é mantermos (sem parecer um cliché) uma condição e portento físico saudáveis e com a dose certa de resiliência e esforço e (e alguma criatividade, vá), até a Odisseia de Ulisses se parece ao desafio de cortar manteiga com uma faca. Por outras palavras, na dificuldade sigam em frente, ainda que seguir em frente possa ser virar à direita ou à esquerda porque a vida mais importante que o destino é o caminho e importa acima de tudo acreditar que o caminho que seguimos é o certo (se o é ou não não interessa a ninguém). 



domingo, 12 de outubro de 2014

O essencia da vida

Com o surto de Ébola, que dura desde Dezembro mas agora que ganhou estatuto intercontinental se tornou preocupante, tenho lido “por aí” indignações e coisas,  porque há quem não compreenda como e porque é que aquela coisa saiu de África, que houve irresponsabilidade das pessoas que teimam em viajar para países desses e que, acima de tudo, deviam ser definitivamente proibidas (ou muito restringidas) as viagens para esses países, que não se compreende, etc…

Não tenho nada de contra de “para grandes males, grandes remédios” e concordo que é boa altura para a humanidade se focar no essencial e deixar para trás as coisas que só nos fazem mal (mais ou menos o mesmo que dizer a um alcoólico para parar de beber álcool), duvido do nível de consciencialização que afinal a sociedade ocidental tem do preço do seu estilo de vida. 

Não acredito que haja muita gente a viajar para as “nigérias” deste mundo, a não ser porque tem que ser e o tem que ser tem (quase sempre) a ver com negócios e trabalho. Pode parecer fútil, mas o facto é que a grande maioria dos recursos do mundo são consumidos por uma pequena minoria (que por acaso é o caso da maioria que vai ler isto), assim, a pergunta que faço é: Será que temos consciência do preço do estilo de vida ocidental? É preciso que se perceba que o estilo de vida ocidental não é sustentável face aos recursos finitos do mundo e que desse modo se torna “essencial” continuar a viajar (mais e em força) para todos países onde haja os recursos necessários à perpetuação de um certo conforto que muitos se habituaram a ter e que tomaram como adquiridos, portanto, até que ponto estamos dispostos a prescindir dessas coisas “adquiridas” para nos focarmos no “fundamental”? Não digo que se deva continuar numa trajectória com provas dadas de insucesso, mas importa que se vejam os problemas na raiz dos mesmos, sendo inútil aparar só as pontas.


As pessoas já se habituaram a ver notícias de massacres enquanto jantam, pelo que não é de surpreender que apesar deste vírus já ter ceifado a vida a mais de 4000 pessoas, a coisa só se torne mesmo preocupante quando passa as fronteiras do ocidente e nos bate à porta, mas ainda assim não deixa de surpreender (e a humanidade supera-se sempre) que apesar da aparente apatia para com os milhares que padecem, haja afinal uma revolta para com o abate de um cão também ele padecente. É por estas (e outras) acho que há mesmo muita gente (demasiada) que não tem mesmo noção do mundo que as rodeia, mas talvez a vida tenha mesmo que ser assim, uma vez que justa só o é nas fábulas de La Fontaine (nada contra os direitos do animais, mas perceba-se que a na vida por vezes é preciso dar um passo atrás para continuar a seguir em frente).

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Funcionário Consular

A todos aqueles que tenham oportunidade de passar uma manhã num consulado de um qualquer país, é de facto uma experiência a não perder, quer pelo treino da paciência e resiliência, quer pelo “fenómeno” sociológico que assola as instalações consulares.

A paciência e resiliência são o “pão com queijo e azeitonas” de tudo o que é assunto que se possa tratar num consulado. Algures num manuscrito do tratado internacional de serviços diplomáticos, deve estar bem escrito que tem tudo que ser complicado..e burocrático…

A experiência sociológica é mais interessante e tem a ver com acentuadas diferenças de semblante. De um lado do vidro, temos os funcionários consulares, sempre com ar relaxado e descontraído, como se fossem imunes ao stress que emana do outro lado e sempre aptos a conversar acerca das férias ou churrasco de fim-de-semana com o colega do lado. Quem olha este lado da vitrine, nunca imaginaria que haveria problemas no mundo, tal não é a expressão de “tudo controlado” que ali há.

Do outro lado do vidro, temos os que precisam de serviços consulares, (quase) sempre encolhidos, olhar pouco penetrante e nunca direccionado aos olhos do “mestre”, simpatia extra reforçada, ar de anjinho, cachorrinho mal morto, 7ª maravilha do mundo e “por favor não me faça mal”, no fundo a torcer com toda a fé para que não haja um dos 1000 imprevistos para impugnar o quer que seja.

No final do processo, em caso de sucesso, temos o desfecho da tensão dramática com o “necessitado” a respirar de alivio e a desfazer-se em ultimas simpatias e votos de bom dia, enquanto recebe de resposta a indiferença de quem “mata borregos com os olhos”.

E isto não é uma coisa de acontecer em UM consulado…acontecerá em todos, e pouco importa se é um estrangeiro a solicitar um serviço num consulado de um qualquer país ou se é um cidadão em país estrangeiro a solicitar serviços no consulado do seu país de origem.


Quando for grande quero ser funcionário consular!

terça-feira, 3 de junho de 2014

Rescaldo Europeu

No rescaldo das eleições vencidas com maioria absoluta pela abstenção, entendidos e interessados têm-se digladiado entre justificações e responsabilizações. Do lado dos votantes, enorme culpabilização aos abstencionistas, por alegadamente estes serem irresponsáveis que não respeitam a democracia nem revelam interesse no processo eleitoral. Do lado dos abstencionistas interessados, uma geral recusa da culpa, quer por considerarem muitos dos votantes como pertencentes ao sistema partidário, quer por assumirem que o seu não voto é tão legitimo e válido com um voto (como representação de protesto).
 
Excluindo a estupidez dos extremos, ambos têm argumentos válidos e compreensíveis - Para se votar, não tem que se ter uma concordância com qualquer dos candidatos, contudo a abstenção tal como se apresentou representa muito mais do que desleixo e irresponsabilidade (eventual) e recusar isto é meter tudo no mesmo saco e insistir no erro (do sistema partidário) e como tal, esta negação de uma evidência, não deixa também de ser um forte desrespeito democrático e clara evidência de desleixo pelos ideais democráticos.

Prova disto, é que muitos dos que abstiveram, não se escusaram de explicar porquê, de argumentarem o seu não voto, de insistir na sua preferência anti-sistema. Apesar de votar ser um dever cívico, não se pode, em democracia, “forçar” o voto aqueles que deixaram de acreditar no poder do voto ou no sistema que lhe assiste. A participação dos eleitores é fundamental para o processo democrático, mas também o é que que os principais actores agradem ao publico

Assim, o maior mal não é as pessoas não votarem, mas sim o que as leva a não votarem - ou seja, uma profunda descrença na utilidade da eleição política. Um sistema só é um bom sistema se servir a maioria e se esta o reconhecer como bom. Não basta dizer que o sistema é bom e responsabilizar quem nele não participa. Cabe aos decisores políticos, também, perceber que a necessidade mudança ou adaptação, é a única leitura que se pode retirar destes resultados a nível europeu. Tal como noutras relações, não basta sermos o “special one” hoje, é preciso a dedicação de sermos o “special one” sempre e mesmo assim isso não é garante que o que hoje é especial amanhã não o seja.
 

 



quinta-feira, 15 de maio de 2014

Fel da vida, Mel da Alma

Aqui há uns tempos li não sei onde sobre não sei quem, que um artista produziu um violentíssimo (mas excelente) álbum, após ter bebido inspiração numa "tragédia" pessoal - ficou, inesperadamente, sem estúdio e sem namorada,

As histórias de artistas que fizeram o seu melhor quando estavam no seu pior, multiplicam-se.

Afinal, a depressão é o melhor tônico criativo (a seguir a cocaína) ou é possível o brilhantismo em fases pujantes mega felizes?

Segundo um Mario de Sa-Carneiro, não. Aparentemente segundo Salvador Dali, sim.

Em que ficamos? O fel da vida é o mel da alma?

sexta-feira, 28 de março de 2014

Portugal adolescente

Diz J. Rentes de Carvalho acerca da melhoria da condições de vida em Portugal desde o 25 de Abril: "a figura que me vem à cabeça é a de um adolescente que tem um golpe de sorte, recebe umas massas, pega nesse dinheiro e entra numa volúpia gastadora sem saber exactamente porque nem como nem para que. Gasta  só pelo gozo de fazer pelo menos uma vez na vida aquilo que nunca fez." E eu fico aqui a pensar que o Rentes de Carvalho é bem capaz de ter razão (tem de certeza) e que até para isso de ter dinheiro e gastar dinheiro, não basta ter e poder, é preciso saber. Caso contrário não tínhamos os subúrbios que temos, o fosso interior/litoral que temos, os maiores centros comerciais que temos e provavelmente o parque automóvel mais inexplicável do mundo se tivermos em conta o salário médio português e de que não produzimos nada de verdadeiramente assinalável e financeiramente sustentável. 

segunda-feira, 10 de março de 2014

Onde estou? para onde vou?

Daqui de onde estou, consigo ver os que vão e os que vêem. Os que choram e os que sorriem, os que correm e os que dormem. Os que se despedem e os que se abraçam (e caramba deve ser giro trabalhar num aeroporto).

E eu, que estou aqui e observo todos e todos parecem saber de onde vêem e para onde vão, fico a pensar se eu, que sei supostamente de onde venho e para onde vou, saberei efectivamente par...
a onde vou e de onde venho.

O que me leva a pensar se isto de as pessoas andarem de uma lado para outro, a trabalhar mais do que em passeio, será afinal uma tosta mista de coragem com necessidade e curiosidade ou um cocktail de irresponsabilidade e de não saber estar quieto e aproveitar o sol que faz lá fora (tipo carapau).

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Daquilo de chorar por emigrar...


A recente aprovação de uma lei de imigração da Suiça que so vem formalizar o que ja ha muito se diz (que os imigrantes são “personas non gratas”) depois de  abate de uma girafa em publico na Dinamarca, por motivos cientificos. Depois do Presidente bi (ou tri)gamo e do ex-futuro presidente violador da França, depois das autistas “leis economicas”, depois  do “estou-me a barimbar” europeu para as economias mais periféricas, depois do “pseudo-apoio que depois da em nada” a paises da ex-URSS (entre outros), eis que a Bélgica aprova uma lei que legaliza a eutanasia para crianças (literalmente) – Ou seja, uma criança não é considerada apta para votar, beber, casar ou ter sexo, mas pode decidir morrer por, por exemplo, estar farta de viver por causa da anorexia.

Começo a desconficar do conceito de paises e evoluidos e acho que começo a perceber aquilo dos enfermeiros que choram por irem emigrar para a Europa...

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Daquilo dos enfermeiros que choram...

De cada vez que vejo ou ouço uma noticias acerca de "Lágrimas na partida de enfermeiros emigrantes" penso que em calhando os ditos dos enfermeiros vão partir em missão para o fim do mundo, ou para um sitio onde não possam usar o seu telefon...e Androide.

Mas afinal não, os ditos dos enfermeiros vão afinal para o UK e eu juro que fico confuso e que fico sem perceber se afinal sou eu que sou muito duro, se é a vida que me tem sido muito dura ou se estes jovens não têm mesmo nada na cabeça para além de imagens do "Harrison".

Então mas Londres não esta a 2,5 horas de Lisboa? então mas em Londes não ha segurança? Então mas em Londres não ha 3G? Então mas em Londres não ha 6 voos diarios para Lisboa? Então mas em Londres não ha mulheres/homens de incrivel sensualidade e talentos varios? Então mas em Londres não vão ganhar algumas 3 vezes mais (ainda que 4 x pouco, seja pouco)?

Então mas viver em Bragança não é condição de isolamento muito pior do que em Londres (tipo no minimo a 6 horas de distancia da civilização)?

Considerando que existem umas boas dezenas de milhares de portugueses (de fibra) que se abalançaram por esse mundo for a, na maioria das vezes para paises que não são do primeiro mundo e em condições que fazem lembrar o Sandokan, isto não é um bocado "bebezice"?

O Vasco da Gama (e sus muchachos) ha de se estar a revirar no seu parco tumulo dos Jeronimos e eu fico a pensar que se calhar até nem se perde muito com isto da emigração.

(PS: Senhores jornalistas, desde quando é que isto é noticia? se quiserem mesmo noticias giras sobre emigrações lixadas, conheço umas quantas (e não falo de mim), mas isso implica ir mais longe do que o hall de partidas da Portela).

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Daquilo das prioridades...

No seguimento das prioridades e do nivel de insenbilidade gerado em  torno da colecção dos Miros, remeti-me para a cronica do Pde. José Tolentino Mendonça, publicada no Expresso ha umas duas semanas atras.
Dizia José Tolentino Mendonça, preocupadamente, que parece haver uma certa relação (negativa) entre o nivel cultural e académico das pessoas e a sua predisposição  para a compreensão e sensibilidade para com os mais desfavorecidos. Segundo Jose Tolentino Mendonça (e apoiado em estudos que citou),  quanto mais alto nivel académico e cultural, menos disponibilidade as pessoas têm para acções solidarias, enquanto as pessoas ja de si algo desfavorecidas, mais facilmente estão dispostas a partilhar o pouco que têm.
Do que percebi, entendo que parece haver uma casualistica de compreensão maior para quem mais proximo esta dos problemas, ou seja quem mais proximo esta dos problemas, esta naturalmente mais apto para os compreender e naturalmente para ajudar. Por sua vez, quem mais afastado esta das esferas desprotegidas, menos compreensivo se sente e logo menos apto para ajudar. Somando ainda que quem pouco tem, nada ou quase nada tem a perder por ajudar, ja o contrario pode não ser tão linear. Do ponto de vista estritamente cultural, a coisa é menos perceptivel, mas eventualmente estar relacionada com um certo viver em nucleo mais fechado e sem noção das agruras de que leva com o vento “de chapa”.
Sera assim mesmo? O desenvolvimento socio, economico e cultural é uma especie de “sebo nos olhos” ou sera antes uma estratégia inata de” eliminação natural”?
Gosto de acreditar que não, mas quando leio e me apercebo de certas questões e do sentimento de prioridade que parece haver, tenho duvidas (o que segundo Socrates (o filosofo), é apenas o principio do conhecimento).

Daquilo dos Miros

Eu, que me considero minimamente sensivel do ponto de vista artistico, confesso-me confuso ou então  desconhecedor de algo. Se por um lado me parece evidente que houve um processo mal gerido e com alguns atropelos aquilo que é a lei (o que promove naturalmente a duvida) por outro quer-me parecer um pouco autista a reacção e o tipo de reacção de ilustres intlectuais e de representantes da “esquerda defensora dos pobres”.
 
 
A colecção dos Miros (que pode valer 40 milhões €), resulta de um processo que, de um ponto de vista mais geral, representa muito milhões de danos para todos os contribuintes. A venda da colecção, não cobrindo de todo o que se perdeu,  é, pelo menos simbolicamente, consistente com a politica de privatizações, vendas e alienações como parte das medidas de recuperação economica e sobretudo financeira. Ja para não falar de todos os cortes em salarios, reformas, beneficios e outros quejandos.
Assim, quando vejo um tão grande numero de pensantes taxativamente contra a venda da colecção e, mais, afirmando que tal representa um grande embaraço e vergonha para Portugal (porque apenas um pais ou pessoa muito desesperada, venderia assim uma colecção daquelas),  pergunto-me a mim mesmo se estamos de facto no mesmo pais onde ja se ultrapassou todo e qualquer limite da vergonha e daquilo que se concebe como minimo e sustentavel para que as pessoas vivam de forma condigna. Se estamos de facto no mesmo pais, onde se vendem a interesses estrangeiros as estrategias nacionais.
Não é que eu tenha pessoalmente gosto na venda da colecção, mas temos que ver as coisas num quadro geral. Em “barriga que não come”, sera que ha olhos para verem arte? Num pais de muito baixo nivel intlectual, importara assim a tantos que existam mais ou menos Miros? A quantos no, fundo, poderia interessar assim tanto esta colecção? Não havera outras maneiras de catalisar a cultura e o interesse das pessoas?
Estamos mesmo a falar do mesmo pais em que um doente de Chaves teve que fazer 400 km de ambulancia e vir morrer a Lisboa?
Depois ainda ha ainda os que advogam que mesmo do ponto de vista estritamente financeiro, a operação não é boa, porque alegadamente seria mais interessante criar um museu de arte moderna para expor a colecção em Portugal e assim atrair apreciadores do mundo todo, que pagariam um justo preço para ver os distintos quadros. Isto é mesmo a sério? Quem conheça minimamente os grandes museus da europa e américa (e for sério), dificilmente podera acreditar que algum dia teriamos condições para competir nesse campo (dificilmente vamos atrair visitas especificamente motivadas pela nossa museulogia).
Sumarizando, parece-me grande o nivel de insensibilidade e de falta de coesão. Quais são afinal as nossas prioridades?
(O que teria sido interessante, teria sido criar uma exposição temporaria que permitisse a todos ir ver os quadros antes de se equacionar a venda).

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O Lavagante

O lavagante, como estratégia de alimento, alimenta algumas das suas presas. As presas, comodamente, aceitam esse alimento e deixam de, elas próprias, o procurar. Um dia, quando as presas ja estiverem o suficientemente gordas para não se conseguirem mexer, o lavagante vai ao seu esconderijo e come-as. 
Numa época de profundo autismo social e político, eis que a Ministra das Finanças se reuniu com banqueiros,  em dezembro passado, com intuito de “forçar” mais um financiamento da banca (privada) ao sector empresarial do estado.
Falamos de cerca 2,7 mil milhões,  mariotariamente para financiar empresas publicas do sector dos transportes. O motivo é simples: Permitir continuar a manter estas empresas fora do perímetro de consolidação orçamental, evitar que a dividas destas sejam consideradas como divida publica e assim contribuir para o regime de brilharete que pretende transformar medidas vulgares de mascarar divida em actos de consolidação e reforma estrutural – não é que o elefante não esteja no meio da sala,  o que acontece é que ninguém o quer ver.
Mais grave que estas medidas procastinadoras da resolução (imprescindivel no futuro que deveria ser suscentavel), é a promiscuidade que se gera entre a banca privada e sector estado...Quando o próprio estado cataliza um investimento que não tem cabimento “per si”, não pode ser de esperar outra coisa que não a da banca vir um dia cobrar o favor.
Paralelamente, existe em curso um plano de privatizações do sector empresarial do estado. Aparentemente só das empresas interessantes e estratégicas, as poucos interessantes ficam,  naturalmente, de fora do interesse de privados e continuarão a acumular, na sua maioria, prejuízos. 
O grande mobil das privatizações tem sido o encaixe financeiro imediato que as mesmas permitem. Claro que este governo é refém de um memorando, de um troika, de anos e anos  e vários governos de ma gestão. Claro que a criatividade orçamental é hoje em dia muito reduzida, contudo a aleanação de interesses estratégicos nacionais é algo que, para além de só adiar um problema, nos vai caducar enquanto soberanos num futuro.
Pode-se falar em manter o interesse nacional atraves de instrumentos de regulamentação, mas isso não é a mesma coisa que fazer. Uma coisa é regular, outra coisa é fazer...o que isto representa é uma delapidação da capacidade nacional de o fazer.  Num pais pequeno e de pouca população, permitir que interesses estrategicos sejam diluidos em grandes interesses internacionais, é uma condenação à dependência.
 É um permitir deixar de aprender, é o processo inverso dos paises em desenvolvimento. É a oportunidade unica de desenvolver quadros que se perde para sempre. Não está em causa a competência dos privados na gestão dos bens públicos, o que esta em causa é a incapacidade de gerar valor e de nos permitir continuar a afirmar na gestão de topo, ja para não falar na oportunidade perdida que nos permitiria desenvolver estas empresas internacionalmente e salvaguardar interesses nacionais.
Anda aí um lavagante e anda aí alguém a ser alimentado.
 
 
 

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Do ex PR

Ainda acerca daquilo do ex PR, so para dizer que a idade é mesmo uma coisa tramada. E não é tanto porque nos faça começar a pensar diferente, é mais porque nos faz falar muito mais aquilo que pensamos.

Que a vida nos acuda a todos e que nos salve de tanta verborreia. Como diria alguém, mais vale ficar calado e parecer estupido, que abrir a boca e confirmar isso.

Das pessoas

Podiamos falar aqui da morte de Eusébio e das reacções das pessoas, das polémicas exclamações daquele ex PR ou até de como PP disse (sem se rir) que afinal tudo fez em prole do reforço de uma coligação (e sabe Deus com que sacrifício pessoal). Podiamos ainda falar de eventuais nomeações de gente reputada e curriculada, que só as mas línguas , invejosos (e outros quejandos) ousariam colocar em caus...a, o mérito. Contudo isso não seria ir ao essencial da coisa.

E o essencial da coisa e tudo aquilo que me apraz (apenas) dizer é que nada disso já me consegue surpreender (o que me poderia surpreender seria o contrario), porque (e talvez seja da idade que não se poupa de avançar a galope), nada de bom ou grandioso (humano, arrisco) se poderia ou devia esperar de uma sociedade demarcadamente lucrativa, umbiguista e autista.

Deixando hipocrisia (tipo de todos) aparte, é bom que nos lembremos que vivemos no mundo com recursos finitos e que para cada um de nos (sim, nos todos), mantenha o seu estilo de vida (seja ele qual for, desde que na Europa ou America dos "evoluidos"), alguém do outro lado do mundo (sim daqueles a quem abnegadamente doamos arroz) se tem que "ferrar" com (tipo) 1% daquilo que aqueles que menos aqui têm, têm.

Sim, apesar de "nos" escandalizarmos por alguém nos relembrar que não é (provavelmente) boa ideia comer bifes todos os dias, todos nos (todos mesmo), vivemos de modo não sustentável.

Insistir na manutenção do estilo ou qualidade de vida (ou que lhe quiserem chamar) da maioria (que é minoria no mundo) é (simplesmente), "condenar" uma boa parte (agora sim da maioria do mundo) a uma certa (também) manutenção de uma miséria (perante os nossos olhos evoluidos).

Portanto, fica a reflexão e a nota de que nada vale mostramos (exageradamente) surpreendidos porque na verdade estamos todos (ou quase todos) um bocadinho ali representados.

O que importa, portanto, não é eliminar o mal do mundo (porque isso seremos nos), mas impor limites de moralidade para que esse mal não se torne no mundo!

Um bem haja!

(PS: Vivemos numa espécie de mundo em que o bom gestor já não vai la com a estratégia subversiva de Sun Tzu, mas sim com a eloquência diplomática de um príncipe (de Maquiavel).

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Ano novo

A vida dá um sem fim de oportunidades, contudo, invisíveis e é preciso rasgar a camada superficial da vida  para as percerbemos. Tal e qual uma mina de ouro debaixo dos nossos pés...se ficarmos parados nunca a vamos descobrir.  É preciso agarrar na picareta. 

Acredito que o "destino" nos cruze e nos coloque  desígnios no caminho, contudo, também acredito que é a nossa vontade de trilhar um determinado caminho que pode rasgar essa camada superficial e abrir um caminho de riqueza emocional , com o risco de que se nada fizermos, nada de fantástico nos vai acontecer.

Os meus votos de ano novo, é que cada um de nos seja capaz de trilhar o seu caminho e que tenha garras para rasgar as camadas superficiais da vida e encontrar todo um mundo de oportunidades.

Podemos ser fantatiscos, mas se ficarmos parados em casa a ver TV, é a mesma coisa que sermos a mais básica amiba. A maior das masmorras, é da camisa de forças que vestimos a nós mesmos por pensar em pequeno. Como diria Zapata, mais vale morrer de pé do que viver de joelhos - arrisquem. 

sábado, 28 de dezembro de 2013

Sem Natal

As reportagens e a histórias de pobres e enjeitados, pintados de tristes "só" porque não têm Natal, enjoa. Enjoa, especialmente, porque é uma criação, um querer fazer acreditar que só aqueles "desgraçados" é que não têm Natal, o resto do mundo sim, e feliz.

O que não falta no mundo é gente sem Natal ora porque está a trabalhar, ou porque esta fora, ou que não tendo motivo nenhum, simplesmente não tem porque não tem. Vende-se muito a ideia do Natal em família e perfeito, mas estou em crer que ha, no mundo, mais famílias desfuncionais que perfeitas e como tal, deixe-mo-nos de comiseração, porque chato (infeliz) é ser pobre e miserável o ano inteiro e não apenas numa noite por ano.

E pronto, é esta a mensagem de Natal do Sujeito, com predicado (sejamos pragmáticos e olhemos a vida de frente e não a olhar para baixo).

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Euforia do regresso

Um pouco por todo o lado, as mensagens eufóricas daqueles que andam por esse mundo fora e agora se vêem a horas de embarcar para Portugal para a pausa se Natal, espalham-se pela internet.

Compreendo muito bem (porque já senti na pele), essa euforia de voltar ao mais próximo que se tem de lar. Embora pareça fácil, até pelas fotos de jantares de lagosta ou praia em dezembro, é de facto difícil e a euforia só é justificada pela dimensão das dificuldades.

Passar muito tempo, demasiado talvez, em determinadas geografias tem essa propriedade - a de se ficar eufórico com o que seria nosso por direito. A típica "regra" do perder para valorizar.

Por outro lado, os que já cá estão, e bem, nunca conseguem sentir a euforia de recuperar nem que seja por pouco tempo, aquilo que nunca perderam.
Voltamos à temática de saber aproveitar o que temos e quando temos, será verdadeiramente possível ou é preciso a chamada experiência de vida para perceber isso tudo? 

Vale a pena os baixos para valorizar (ainda mais) o altos? Existirá mesmo  uma "mediocridade monótona na regularidade"?

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Casa


Chegar, ao fim de semanas,  e ser recebido pela Sra do check-in tal com familiaridade tal que parece que sai dali ontem deixou-me com o sentimento confortavel de ser reconhecido como “o filho que torna a casa” e por outro lado com o reconhecimento triste que isso, provavelmente , se deve ao facto de ter passado demasiadas noites ali (não tantas para experimentar todos os quartos, mas quase).  
 
E isso, de me “sentir em casa” num hotel, não pode ser coisa boa.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Estar so, sem estar so

A proposito da morte de Mandela, o homem que esteve casado 34 anos com uma mulher, dos quais 30 preso,  e de quem se divorciou apenas 2 anos depois de libertado. Alegadamente tera dito que “foi o homem mais solitario do mundo nos dois anos apos a liberdade”.

Fernando Pessoa abordou o tema. Hemingway também -  A pior das solidões é aquela que se vive acompanhado.

É de facto significante. Alguem que viveu 30 anos em condições de isolamento, achar (alegadamente) que mais solitario do que estar so, é estar so ao lado de alguém. 

Aparentemente a pior das masmorras não é da solidão per si – essa parece que se aceita, mas sim  a da solidão de se estar acompanhado sem estar. De esperar e não ter. De ser suposto e não ser.
No fundo, é tudo uma questão de expectativa (porra, somos mesmo pavlovianos).

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Madiba

Agora que o Madiba Mandela morreu, as pessoas vão chorar, vão publicar mensagenes de condolências, vão bater em latas, vão fazer homenagens, vão anunciar a sua grande obra (ainda que a maioria ignore ao certo qual foi) e vão dizer que o mundo fica mais pobre.

O mundo contudo não fica mais pobre, porque nunca deixou de o ser, uma vez que amanha (ou logo), as mesmas pessoas vão continuar a comer o seu jantarinho enquanto passam desigualdades na TV e vão dizer que é muita pena ser assim, mas que não podem fazer nada, uma vez que aparentemente aceitam bem que nascemos desiguais e como tal teremos vidas desiguais. As mensagens são bonitas, porem inuteis quando desprovidas de acções.

Madiba, foste grande e abdicaste de muito em prole de uma causa, porem e embora oficialmente muitas das desigualdades tenham pomposamente terminado, continuamos (uns mais que outros), a viver agrilhoados pelo flagelo da desigualdade.

Por isso, seria positivo que, por uma vez que fosse, aqueles que se estão nas tintas para os que sucumbem em Africa e e noutros sitios, se calassem e deixassem hoje a hipocria de lado e que evitassem verborreias acerca de opressão e racismo, mais que não fosse por respeito ao defunto.

E é isto. Provavelmente daqui a um ano havera um concerto em Wimbledon para celebrar a efemeride e haverão foguetes e o  Bono dos U2 ira fazer uma musica para o evento e tudo.


Depois, a coisa vai-se diluir no tempo e devera ficar restrita a uma casa museu e a umas canecas com a cara do Madiba. O mundo....o mundo continuara desigual (como si mesmo)...


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

O comboio

Na vida é comum dizermos que, se fosse hoje, fazia diferente. E esse se é importante, porque surge depois da acção, ou seja...só conseguimos aferir o real peso das nossas acções e decisões depois de elas estarem tomadas, quando já "é tarde".

É isso e uma certa incapacidade humana para detectar os problemas enquanto ainda não o são verdadeiramente, ou seja, a importância  do problema só nos percorre a espinha quando percebemos que o mesmo já não será resoluvel de forma  pacífica.

Até lá, procrastinamos...adiamos demasiadas vezes decisões resolutivas, acomodamo-nos demasiadamente a habituações que só avultam a matéria e escondem a vida. Apanhamos o comboio da rotina até ao dia em que ele descarrila e em que somos chamados a acordar é a perceber que podíamos ter saído ha 10 estações atrás. 


Fica para um dia...esse dia pode ser tarde demais. O "hoje" devia ser um dia demasiado importante para o ocupar demasiadamente a pensar no "amanhã". Até porque os planos, são a única certeza pela qual a vida não passará.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Cunhal, do homem e da obra

Aproveitando o 25 de Novembro, são varias as publicações que têm dedicado artigos ao centenário de Álvaro Cunhal. E o espectáculo tem sido triste. Triste, porque a maioria dos artigo que li se versava muito mais no homem do que na obra. No seus 100 anos, fala-se do seu charme, no seu estilo misterioso, no porque de usar camisas, nos excelentes nos de gravata, numa vida afectuosa com affairs dignos da "Nova Gente". 

Goste-se ou não, Álvaro Cunhal foi sem duvida um personagem incontornável da historia recente de Portugal. Álvaro Cunhal, pautou-se (ou esforçou-se) para se apagar a si próprio em detrimento dos seus ideais (aos quais terá sido fiel?). Álvaro Cunhal, terá tentado, aparentemente, demitir-se de vénias pessoais em conformidade com os seus ideais anti personificação do culto e em prole do comum. Álvaro Cunhal, tinha contudo carisma.

E aqui reside o fel do homem - no carisma. 

Apesar de Manuel Tiago ter dedicado boa parte (quase toda) da vida a, supostamente, defender, desenvolver, implementar um conjunto de ideais que buscam neutralizar o homem em prole da comunidade. Que buscam enfatizar a força colectiva e reduzir o talento individual, que buscam eliminar celebrações pessoais, fazendo-as de todos, que buscam mostrar que é possível sermos conjunto e não uno...o triste...o triste disso é que nas comemorações dos seus 100 anos, a única coisa que haja a comemorar sejam os seus tiques pessoais, o culto da sua personalidade, o seu endeusamento, a sua elevação acima do comum mortal..o enfatizar do seu carisma.

No fundo, faz tanto sentido como o individuo que é vitima de cancro sem nunca ter fumado na vida. é uma infeliz espécie de dissertação que remete comunismo mais a uma questão de estilo do que ideologia.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O badocha de serviço

AVISO: As palavras que se seguem são preconceituosas – não recomendáveis a pessoas com salamaleques.
O almoço de sushi deixou-me a boca seca. Entro na copa com o objectivo de saquear uma garrafa de agua e constato com uma festa de despedida de alguém (os empregos são sempre como os Alfa Romeu - temos duas alegrias,a do primeiro e a do ultimo dia).

No meio daquele espectáculo triste e povoado de deprimidos frustrados com o tempo, com a Pepsi e provavelmente com o seu aspecto de falso blaze e recheado a bolo de chocolate da bimby, eis que o badocha de serviço entra em acção (certamente na ânsia gorada de ser o engraçado e talvez sacar um sorriso da "Vera Vanessa" que trata dos balancetes), e, achando-se um Dody Al-fayed e esquecendo-se que verme, saca do seu android dos pobres (espertos, quero dizer) e achou boa ideia grunhir:

“Querem ver o que a minha empregada(bem salientado) escreveu no blog dela? (rindo-se)”, a seguir recita três ou quatro entradas, provavelmente pouco providas de senso literário mas batidas a emoção, sempre em tom jocoso, próprio de quem precisa de “bater” em alguém para obter aprovação do quarterback.

Primeiro, o termo empregada é descabido. Isso seria aplicável se ele lhe pagasse um salário e tivesse assinado um contrato. O mais certo é ele pagar por um serviço, seja do que for (e no caso dele deve pagar serviços de muita coisa). O balofo estava portanto a armar-se aos cucos.

Segundo, é triste que pessoas que aparentemente têm vontade de se expressar de forma mais emotiva, tenham que se submeter ao escrutínio e a ao serviço de flácidos intelectuais.

Terceiro, é lamentável que a pratica “bully” seja a única admissível a pessoas sem auto-estima para impressionarem as “Veras Vanessas” deste mundo.

Quarto, eu juro que sou boa pessoa, mas quando tenho a boca seca e vejo gente parva, transformo-me numa espécie de Carrilho contra Barbara (mais ao nível da escrita criativa).