segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Cunhal, do homem e da obra

Aproveitando o 25 de Novembro, são varias as publicações que têm dedicado artigos ao centenário de Álvaro Cunhal. E o espectáculo tem sido triste. Triste, porque a maioria dos artigo que li se versava muito mais no homem do que na obra. No seus 100 anos, fala-se do seu charme, no seu estilo misterioso, no porque de usar camisas, nos excelentes nos de gravata, numa vida afectuosa com affairs dignos da "Nova Gente". 

Goste-se ou não, Álvaro Cunhal foi sem duvida um personagem incontornável da historia recente de Portugal. Álvaro Cunhal, pautou-se (ou esforçou-se) para se apagar a si próprio em detrimento dos seus ideais (aos quais terá sido fiel?). Álvaro Cunhal, terá tentado, aparentemente, demitir-se de vénias pessoais em conformidade com os seus ideais anti personificação do culto e em prole do comum. Álvaro Cunhal, tinha contudo carisma.

E aqui reside o fel do homem - no carisma. 

Apesar de Manuel Tiago ter dedicado boa parte (quase toda) da vida a, supostamente, defender, desenvolver, implementar um conjunto de ideais que buscam neutralizar o homem em prole da comunidade. Que buscam enfatizar a força colectiva e reduzir o talento individual, que buscam eliminar celebrações pessoais, fazendo-as de todos, que buscam mostrar que é possível sermos conjunto e não uno...o triste...o triste disso é que nas comemorações dos seus 100 anos, a única coisa que haja a comemorar sejam os seus tiques pessoais, o culto da sua personalidade, o seu endeusamento, a sua elevação acima do comum mortal..o enfatizar do seu carisma.

No fundo, faz tanto sentido como o individuo que é vitima de cancro sem nunca ter fumado na vida. é uma infeliz espécie de dissertação que remete comunismo mais a uma questão de estilo do que ideologia.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O badocha de serviço

AVISO: As palavras que se seguem são preconceituosas – não recomendáveis a pessoas com salamaleques.
O almoço de sushi deixou-me a boca seca. Entro na copa com o objectivo de saquear uma garrafa de agua e constato com uma festa de despedida de alguém (os empregos são sempre como os Alfa Romeu - temos duas alegrias,a do primeiro e a do ultimo dia).

No meio daquele espectáculo triste e povoado de deprimidos frustrados com o tempo, com a Pepsi e provavelmente com o seu aspecto de falso blaze e recheado a bolo de chocolate da bimby, eis que o badocha de serviço entra em acção (certamente na ânsia gorada de ser o engraçado e talvez sacar um sorriso da "Vera Vanessa" que trata dos balancetes), e, achando-se um Dody Al-fayed e esquecendo-se que verme, saca do seu android dos pobres (espertos, quero dizer) e achou boa ideia grunhir:

“Querem ver o que a minha empregada(bem salientado) escreveu no blog dela? (rindo-se)”, a seguir recita três ou quatro entradas, provavelmente pouco providas de senso literário mas batidas a emoção, sempre em tom jocoso, próprio de quem precisa de “bater” em alguém para obter aprovação do quarterback.

Primeiro, o termo empregada é descabido. Isso seria aplicável se ele lhe pagasse um salário e tivesse assinado um contrato. O mais certo é ele pagar por um serviço, seja do que for (e no caso dele deve pagar serviços de muita coisa). O balofo estava portanto a armar-se aos cucos.

Segundo, é triste que pessoas que aparentemente têm vontade de se expressar de forma mais emotiva, tenham que se submeter ao escrutínio e a ao serviço de flácidos intelectuais.

Terceiro, é lamentável que a pratica “bully” seja a única admissível a pessoas sem auto-estima para impressionarem as “Veras Vanessas” deste mundo.

Quarto, eu juro que sou boa pessoa, mas quando tenho a boca seca e vejo gente parva, transformo-me numa espécie de Carrilho contra Barbara (mais ao nível da escrita criativa).

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Radio

Na era da super informação instantânea, uma coisa que me continua encher os pulmões de pujança anímica é a radio.

A radio em directo, perceba-se. Quero dizer, naqueles momentos da pratica da solidão, numa noitada de trabalho, numa madrugada de folia, ou numa viagem matutina (ou até numa depressão dominical), haverá melhor tónico que ouvir pessoas a falar com pessoas? Falando por mim, acho que é bastante revigorante esse sentir que há vida do outro lado, que há mais um dia a começar, que o mundo se move na sua velocidade cruzeiro, independentemente da nossa circunstancia pessoal – No fundo a agradável confirmação de que se nos ficarmos hoje, amanhã haverá um novo dia.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Da frustração...


As recentes separações de alguns mediáticos, bem regadas a "faca e alguidar", de diferente daquilo que acontece aos molhos um pouco por todo o lado, só tem mesmo o facto de aparecerem na capa de alguns periódicos e deixar espaço para que todos opinem com desconhecimento de causa.

Isto para dizer  que, em muitíssimos casos, pessoas aparentemente sóbrias e intelectualmente estáveis, entram em descompensação e tomam atitudes que não lembra ao diabo - independentemente do estatuto social, económico ou académico (o nível de conhecimento da populaça é que varia). 

Descartando os casamentos por conveniência, ou por imposição familiar, não acredito que essa alteração comportamental inesperada (não sendo por vezes tão inesperada assim) esteja relacionada com o fim propriamente dito, estando muito mais ligada a uma deficiência congénita da digestão de frustrações que assola muitos humanos desde pequeninos.

Em boa verdade, é apenas uma variante madura das birras das crianças e é liquido: Humanos têm dificuldade em lidar com a frustração e só a experiência e maturidade suavizavam essa hecatombe de emoções efervescentes (ou deviam). A realidade prova que, in extremis, a maturidade só refina o método da "birra", numa versão não muito diferente do clássico "se eu não posso ter este brinquedo, mais ninguém pode ter". 

Isto leva-me finalmente ao que me traz aqui hoje...é que uma relação (seja de que tipo for), só termina no dia em que termina para uma das partes, na maioria dos casos já terminou para a outra parte muito tempo antes. E é aqui, nesse fim a dois tempos, que reside a violência do fim. O que dilacera não é tanto o fim, mas a confrontação de que não fomos capazes de perceber o que se passava a nossa volta. A frustração de aceitar que o barco zarpou e nos ficamos distraídos no cais "a espera". No limite, a ingestão de termos afincadamente trabalhado e investido num projecto falido. 

So a maturidade intelectual poderá suavizar os efeitos desta revolta de sermos confrontados com uma realidade diferente da que tínhamos como referencia. é natural que o agitar do pano que nos serve como chão nos deixe confusos, o que já não é para todos é o recato enquanto durar essa confusão.

Como  alguém (Garcia Marquez) disse: "Não chores porque terminou, sorri porque aconteceu", é muito bonito embora mais fácil de dizer do que fazer. 

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Da greve...

Sexta foi dia de greve geral da função publica. Para ser sincero não conheço profundamente todos os motivos, deixei de os conhecer quando percebi que num grosso das vezes estão em causa estão “direitos adquiridos” e outras coisas que por circunstancias da vida eu nunca adquiri.

Admito que as pessoas andem indignadas, (afinal é chato perder coisas e direitos e tal) e percebo que se manifestem para defender os interesses que são seus. O que tenho mais dificuldade em perceber é que de algum modo essas pessoas achem que os interesses delas são os meus interesses ou os interesses de uma sociedade, ou por si só uma coisa boa.

Em Portugal (e Europa em geral) é, de um ponto de vista socialmente correcto, proibido dizer-mo-nos contra manifestações (ou queixosos ou desfavorecidos) sem se levar automaticamente com o rotulo de ultra-liberal ou estúpido ou insensível .

E isto é hipócrita. É hipócrita porque aqueles que muitas vezes se manifestam , não o fazem por mim ou por nos, mas sim por eles e pelos interesses que lhes dizem estritamente respeito – doa a quem doer. A quem adquiriu direitos, pouco importa abdicar de alguns para os garantir a outros – o descrédito e desconfiança do ser humano para com o ser humano é tanta, que por defeito interessa mais garantir “o meu e dos meus” que dos outros ou nosso.

E desse ponto de vista é tão “terrorista” o carrasco que corta cabeças a eito como os guardiões dos intocáveis que, mesmo após a evidencia de um trajectória suicida, se recusam de forma construtiva a mudar o quer que seja. Faz lembrar um pouco a historia da ilha da Pascoa - uma sociedade que se extinguiu porque se recusou a ver o óbvio: O mundo esta em constante mudança e só os que se adaptam sobrevivem.

Por vezes para seguir em frente é preciso dar um passo atrás, e na vida não somos donos de nada – (só levamos a experiência), pelo que enquanto olharmos para a vida como algo que foi adquirido e não como algo que tem que ser conquistado todos os dias, haverá sempre os que se queixam de barriga cheia.

(tudo isto para dizer que fico indignado com tanto direito e coisa adquirida por parte de quem se instalou na altura certa enquanto outros estão condenados a um futuro cheio de nadas).

PS: Não sou contra as pessoas terem e defenderem continuar a ter (eu também tenho muita coisa que gosto de ter), assumam é que é um interesse pessoal ou de uma classe ou um privilegio. é uma coisa mais do ego que do sócio.

Da vida...

II

O ser humano é de habituações, e por mais que tenha, quando se habitua a ter, quer mais. É natural – se a ultima coca-cola do deserto me provoca uma imensa felicidade, uma coca-cola todos os dias só me provoca uma dilatação do estômago. E é este “defeito” humano de nos habituarmos ao que temos ao ponto de nos esquecermos ou de deixarmos de saber ser felizes com tudo o que temos, que nos impulsiona para uma trajectória por vezes trágica ou se quisermos egoísta.

É do apanágio popular dizer que só damos valor ao que temos depois de o perdermos e a verdade é que o mundo esta cheio de gente infeliz com tudo, e feliz sem nada. Também não é menos verdade que momentos que nos abanam muito a vida (a chamada experiência de vida), nos fazem valorizar o fundamental – que é a vida. Dai o proverbio “nunca digas esta agua não beberei” – é muito mais um conjunto de circunstancias que nos faz agir, sentir e adoptar certo comportamento, do que a teoria e o que achamos que somos.

Tudo isto para concluir, que o fundamental da infelicidade é inexperiência de vida (o que não significa que infelicidade seja opção).

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Da vida...

I

A morte de 92 imigrantes no deserto ou os crescentes raptos em Angola e Moçambique (entre outros países) tem uma base comum: Pessoas que saem do seu pais para se abalançarem a hipotéticas condições de vida melhores.

Hipotéticas, porque creio que a maioria sonha sempre com algo que não existe, com algo que é ficcionado. A realidade nunca corresponde a imagem que criamos de determinado pais...a realidade vem trazer uma espécie de equilíbrio – se por um lado os aspectos negativos se revelam menos negativos, os aspectos  “de sonho” também se revelam mais banais. Contudo isso é irrelevante...no momento de se atirarem ou deserto ou de se meterem num avião com destino incerto, o que os move é o motor da esperança alimentada pelo desespero que de algum modo se lhes esta entranhado nos ossos. 

Aqui reside, a meu ver, a maior das limitações humanas. Se por um lado carências físicas varias motivam ser humanos para desafios tremendos e para um maior desenvolvimento dos vínculos emocionais entre pessoas, por outro lado, uma sociedade prospera tende a ser farta em tudo menos em relações humanas. E se será horrível viver em condições de morte, não deixa de ser frustrante ser infeliz numa sociedade farta e é ai que a nossa limitação animal reside – é que somos capazes de nos sacrificar de vida em busca de alimento, mas dificilmente nos sacrificamos de vida em busca de harmonia em pessoas.

Na verdade, se tivermos de barriguinha cheia, deixa-mo-nos definhar num mundo autista. O mundo será sempre um lugar estranho enquanto for possível haver desequilíbrios tais, que seja aceitável que alguns se sacrifiquem ou sejam sacrificados gratuitamente enquanto outros assistem de mão atadas, ainda que eles próprios envolvidos num novelo em que não e liquido serem felizes e muito menos terem condições de mudarem o quer que seja.  Não é que as pessoas sejam egoístas, vivem é “prisioneiras” de uma sociedade maximizada para o consumo e rápido!

(ideia em desenvolvimento...)

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Carrilho e Baba

A recente historia de faca e alguidar entre Barbara e Carrilho, da qual não vou tecer comentários por se tratar da vida privada de cada um, só me faz lembrar o popular ditado “em casa de ferreiro, espero de pau”. O que a realidade e os factos nos evidencia, é que na hora da verdade, quando lhes acontece a eles, quando a pele começa a aquecer, os “especialistas”, deixam de o ser e comportam-se de acordo com o seu intimo. O seu eu interior sai do fundo do iceberg e emerge até ficar visível – sem teorias, sem especialidades. Cada um tal como é – in cold blood.

Isto, porque seria de esperar que um filosofo, professor, ex-ministro, e vivente nos seus 60 anos, tivesse mais senso e inteligência social, antes de vir enxovalhar a futura ex-mulher em praça publica. Não sei os motivos do futuro divorcio e até posso conceber que Carrilho sinta uma profunda revolta e frustração com a futura ex-mulher, o que não compreendo é que ele entre numa lógica de escândalo que só ira provocar danos irreversíveis e consequências desastrosas para ele a para a relação forçada que ira ter com a mulher (e filhos).

Do ponto de vista filosófico, social ou até racional, Carrilho, até ver, tem demonstrado ser simplesmente um idiota e ter um desenvolvimento psicomotor ao nível do rural que queima a ex-namorada com acido, apenas porque não sabe lidar com a rejeição...

Concluo dizendo que é sempre muito mais fácil criticar do que fazer e dai eu pessoalmente ser um pouco adverso a tantos comentadores de bancada, acomodados ao seu lugar de comentadores, mas que na hora da verdade se comportam com alarves. Experiência de vida é tudo.

Acontecer aos outros

Ha um conjunto que coisas que, de certo modo, achamos sempre que so acontecem aos outros até ao dia em que nos acontecem a nos – isto é mais ou menos uma verdade de La Palice.

Depois há o conjunto de coisas que nos acontece a nos e achamos que nunca acontece aos outros – isto é mais ou menos o mindset do português médio típico. Ou seja, ter um mau emprego, ganhar mal, morar numa casa péssima, ter um carro que avaria e um cão que ladra, são coisas que nos acontecem só a nos e nunca aos outros, porque os outros enfrentam uma vida perfeita de sorte espectacular com empregos de sonho e bem remunerados, chefes com inteligência, férias no Cacém de baixo e mulheres de sonho sem ser em sonhos e porque nos merecemos penar por sermos baixos, fracos, feios.

Quando um mamífero humano se destaca do malharal, facilmente se cria a ideia de intocável, ídolo e perfeito e depois há quem acredite mesmo que as pessoas são mesmo imunes a problemas. Como se tivessem tomado um tónico da felicidade ao ponto de os “comuns” se indignarem com a por vezes evidente infelicidade de quem “tem tudo” para ser feliz.

A ver se entendemos, somos todos pessoas, somos todos farinha do mesmo saco e ninguém tem tudo para ser feliz só porque se destacou em determinada área. Os outros são pessoas como nos e, tirando o Chuck Norris, todos podemos estar sujeitos as mesmas provações. Se tivermos que meter tudo numa balança, até diria que quem atinge sucesso esplendoroso em determinada área tem mais dificuldade em encontrar o equilibro nas outras – como se de uma maldição se tratasse.

Portanto, gente infeliz, ressabiada e invejosa (uma boa parte da população do mundo), deixem se comiserarem por si mesmos e mentalizem-se que coisas mas (e boas) acontecem a pessoas boas (e mas), independentemente das virtudes pessoais dos sujeitos na aleatoriedade incrível que caracteriza a vida.

E lembrem-se, até um dos ícones femininos, sexuais, libertinos e outros quejandos (Madonna) já foi vitima de traição, violência domestica e abandono – tal e qual uma dona de casa gordurosa, flácida e desesperada.